Leilão de arroz e sabedoria popular




No rescaldo da malfadada decisão do governo federal de importar 300 mil toneladas de arroz, criando, para tanto, uma narrativa absolutamente descolada da realidade, um dito popular mostra toda sua força e sabedoria: há males que vêm para o bem. 

O mal - as descaradas irregularidades no processo de leilão de compra de arroz importado, tendo como consequência imediata a anulação do resultado da hasta pública - pode, de fato, levar ao bem, desde que o governo deixe de lado sua sanha intervencionista e passe a fazer o que lhe cabe: planejamento e gestão. 

Dizer que há pressão nos preços é pura falácia ou tremendo equívoco de leitura dos cenários dos últimos meses. A realidade dos fatos mostra que, no mês de novembro, período de entressafra, a saca de 50 kg de arroz valia R$ 112 no dia 13, saltando para R$ 116 no dia 22. Os preços, naquela altura, seguiam naturalmente a dinâmica do mercado em momento de menor oferta do produto. 

Em meados de abril deste ano, no cenário pré-catástrofe, a saca era comercializada a R$ 105. Com o Rio Grande do Sul submerso, em meados de maio o preço dava um salto para R$ 116. 

Com o arroz sequeiro entrando no mercado, o mês de junho sinaliza para uma redução da cotação da saca de 50 kg. No dia 4, ela valia quase R$ 119. No dia 11, o preço era menor: R$ 113,48, bem próximo ao valor do arroz em novembro, na entressafra (R$ 112). 

Ao compararmos indicadores de novembro de 2023 e junho de 2024, temos de levar em conta que esse foi um período de alta de preços em vários produtos alimentícios. 

A análise da flutuação de preços no mercado interno tem de levar em conta essa perspectiva. 

Sob esse olhar, fica claro que foi equivocada a decisão do governo em realizar o leilão para compra de arroz.

 Como a hasta pública foi anulada, o correto seria cancelá-la de vez e direcionar os mais de R$ 2 bilhões, que seriam gastos na importação e logística de distribuição das 300 mil toneladas de arroz, aos agricultores, que têm pela frente o enorme desafio de plantar a safra 2024-2025.

 Será uma árdua tarefa, a começar por cuidados com o solo, que empobreceu com a perda significativa de nutrientes levados pelas inundações, passando pela adubação e chegando ao plantio e colheita, onde também pesam os custos da reposição de máquinas e equipamentos destruídos na tragédia climática.

 Sem solo fértil, com dificuldades para adubar, plantar e colher, os agricultores veriam a produtividade cair. A colheita seria menor. Com menos arroz no mercado, os preços subiriam. Seria uma espiral perversa. Para evitá-la, o governo precisa ser mais gestor, deixando de lado, definitivamente, as práticas do descabido intervencionismo.

 

Carlos Fernandes atuou como Secretário Executivo Municipal de Segurança Alimentar, Nutricional e Abastecimento de São Paulo.

Comentários

  1. Se o governo não tivesse anunciado que iria importar arroz, o pacote de 5kg de arroz bateria os 50 reais , só por conta dos aproveitadores.

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  2. voce está corretissimo em seu comentário. Parecido com o modo de sobrevivência dos urubús, o governo não vê a hora de uma desgraça acontecer para entrar com suas medidas "infalíveis" de reparos/ ajuda/ ações/ que lhe geram riquezas onde mamará por diversos anos. Ao invés de trabalhar no contexto de um País tropical sujeito aos intempéries do clima, montando um plano de ação dependendo do acontecimento, prefere deixar acontecer para tomar as rédeas enganando a população e tomando os míseros lucros dos trabalhadores, no caso aqui, agricultores de uma vida inteira no campo. Conseguimos montar o perfil dos que perderam tudo e não ouvimos uma palavra sequer sobre leiloar terras ou sacas de alimento. Ao contrário, eles sabem guardar para possíveis desastres ambientais. No País inteiro temos especialistas em meio ambiente e recuperação de solo, mas o governo prefere o modo mais caro e demorado para usufruir das vantagens do sofrimento dos agricultores , que, automaticamente irá fazer exatamente o que o governo quer: Disparar preços para gerar impostos mais altos, para sustentar bundas gordas em suas cadeiras de carreira especializada em burlar direitos naturais de sua população.

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  3. correto falou td parabéns pelas sábias palavras

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