Demagogia, autoritarismo e populismo

Mais uma semana no país onde a pandemia virou jogo político nas mãos de um governo que flerta com o autoritarismo. Nos últimos dias nos tornamos a segunda nação com mais casos de COVID19 no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos, que, vale lembrar, acabou de proibir a entrada no seu território de brasileiros ou pessoas que passaram por aqui.

Enquanto isso, a nossa economia que já vinha ladeira abaixo após anos de gestão petista, agora está à beira do precipício. O desemprego cresce e os pequenos empresários ficam a ver navios enquanto esperam medidas de apoio do poder público.

Acredito que esta seja a realidade que a maioria enxerga aqui no Brasil, menos o presidente e seus aliados. Retrato desse descolamento é o vídeo da reunião ministerial que, em plena pandemia, não fala de pandemia. Bolsonaro e seus ministros parecem viver em um universo paralelo onde outras questões, como assuntos familiares, são prioridades. Fica claro que trata-se de um governo que governa para os seus. Representa os interesses dos que coadunam com seus pensamentos e não os de todos os brasileiros.

O presidente vai ao auge da irresponsabilidade e incita a violência por parte da população contra prefeitos e governadores, que tem trabalhado arduamente para salvar a vida das pessoas e lidar com os graves impactos do coronavírus, enquanto o governo federal nada faz. Bolsonaro não pôs os pés em nenhum dos locais onde os brasileiros têm contado as mortes às dezenas, ou milhares, como São Paulo, Amazonas ou Pará. Ignora as mais de 20 mil vidas perdidas e joga no lixo ideais republicanos que colocam o bem comum acima de interesses de grupos ou pessoas.

A prática do inquilino do planalto é egoísta e autocentrada. Bolsonaro foi eleito porque conseguiu se colocar como representante de um sentimento coletivo de antipetismo e desejo de combate à corrupção. Porém, desde que assumiu, nada fez para se manter como legítimo representante destes anseios. Não tomou nenhuma medida relevante. Até mesmo a reforma da previdência foi uma conquista do Congresso (isso sem mencionar que o texto ficou bastante aquém da proposta que já havia sido colocada no governo Temer). Dialoga com o centrão distribuindo cargos na tentativa de dar sustentação para seu governo capenga. Até mesmo nomes como Roberto Jeferson, velho conhecido do escândalo do Mensalão, integra agora seus quadros. É assim que combate a corrupção? Posa de bastião da honestidade pela frente e por traz segue mergulhado no que há de mais reprovável nos bastidores de Brasília.

Ele acusa governadores de pretenderem tomar sua cadeira, mas é o próprio que está tão focado nas eleições de 2022, que esquece de despir a fantasia de candidato. Até agora não governou o Brasil e parece não saber que era isto que deveria estar fazendo, ao invés de manipular de forma cruel seus seguidores, incitando-os a ir às ruas e colocar suas vidas em risco, apenas para que ele prove seus pontos de vista e seu apoio perante a opinião pública.

Age como se fosse ele mesmo o Estado e tudo e todos estivessem a seu serviço. Populista e autoritário, tem práticas que em nada se diferenciam do lulopetismo. O conteúdo é diferente, mas a cartilha em que estudaram estou certo de que é a mesma.

Ao seu lado, o general Augusto Heleno também parece estar bem distante de entender o momento que vivemos. Diante do envio pelo ministro do Supremo, Celso de Mello, ao procurador geral da República, Augusto Aras, de uma carta formulada pelo PDT, PSB e PV, na qual os partidos acusam o presidente Jair Bolsonaro de vários crimes e pedem a perícia de seu celular e de outros, como o do ex-ministro Sergio Moro, Heleno fez declarações levianas, que certamente não refletem o pensamento das nossas Forças Armadas.

Ele cita a possibilidade de ‘consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional’ no caso de a perícia no celular do presidente ser efetivada. No Brasil vivemos uma crise sanitária, econômica, política e moral. A ameaça dele pretende elevar este quadro caótico de que forma? É temerário e irresponsável que ele se manifeste desta maneira.

Nas ditaduras, tanto à direita como à esquerda, este é o modus operandi. Um grupo toma o poder em nome do povo, contudo, quem governava, de fato, é um número restrito de pessoas – uma minoria organizada, que passa a monopolizar o discurso e projetá-lo como se fosse o desejo da maioria. Vimos isso em Cuba, na Venezuela e em tantas outras revoluções que culminaram e ditaduras ao redor do mundo.

Você pode pegar a mesma história e trocar seus protagonistas – nazistas, fascistas, comunistas, socialistas. A máxima não é verdadeira e nunca será. A realidade é que a única forma de representação que garante a diversidade de ideias e interesses é a democracia.

Bolsonaro tenta repetir a fórmula no Brasil, buscando projetar os seus desejos e interesses como os de todos nós (ou grande parte). Não é. São uma minoria, que chegou ao poder com um discurso mentiroso e agora querem se impor. Não vão. Nossa democracia e nossas instituições são fortes e prevalecerão.




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