Arnaldo Jardim fala sobre os desafios à frente da Secretaria de Agricultura
Eleito por três mandatos consecutivos deputado
federal pelo PPS, Arnaldo Jardim teve intensa atuação parlamentar em demandas
ligadas ao agronegócio, em especial energia, biocombustíveis e ambiente, mas
assumiu a secretaria paulista em um momento delicado, um teste para sua
habilidade política e de gestor. A restrição ao uso da água na irrigação é o
maior desafio no curtíssimo prazo, mas nem de longe é o único a ser enfrentado
pelo novo secretário.
Com menos de 1% do orçamento estadual, a secretaria
precisa ainda criar mecanismos para ajudar na recuperação da atividade
canavieira, além de resgatar o dinamismo da máquina pública, em especial dos
institutos de pesquisa, financiamento e assistência técnica ao setor,
prejudicados por baixo investimento e deficiência de pessoal.
Seu plano nessa frente inclui abertura de concurso
público para recomposição do quadro da secretaria que já teve, há cinco anos
6,1 mil funcionários, e hoje tem 4,8 mil. Após essa etapa, Jardim pretende
discutir a valorização das carreiras.
Em entrevista ao Valor no dia de sua posse, em 8 de
janeiro, o titular da Agricultura afirmou que São Paulo precisa de inovação
para se manter na vanguarda do agronegócio nacional. "Temos o privilégio
extraordinário de ter a mais complexa e importante rede de pesquisa e um
conjunto de coordenadorias de extensão rural que são um canal que fazem com que
os avanços conceituais cheguem ao agricultor".
Para multiplicar os recursos o secretário pretende
firmar parcerias público-privadas e discutir a venda de ativos não
estratégicos, como terras. "Aquilo que for fundamental para a pesquisa
buscaremos preservar", afirmou.
Na lista de prioridades está a cana-de-açúcar que,
sozinha, representa em torno de 40% da geração de riquezas da agropecuária
paulista. Se a cultura vai mal, uma boa parte da economia estadual também
patina, na medida que é a atividade "número um" de 27 das 40 regiões
rurais de São Paulo.
Entre janeiro e novembro de 2014, último dado
disponível, o Valor Bruto da Produção (VPB) agropecuária do Estado de São Paulo
caiu 11%, para R$ 61 bilhões. A cana foi a principal responsável pelo declínio
do indicador paulista no período ao recuar 17,5%, para R$ 22,9 bilhões.
A crise do setor sucroalcooleiro também se reflete
nos números de emprego no Estado. Somente entre janeiro e novembro deste ano,
as usinas, todas localizadas no interior, empregaram, na média mensal, 38 mil
pessoas a menos do que no mesmo intervalo de 2013, uma queda de 7,4%. É preciso
observar que parte desta queda decorre do processo de mecanização da colheita
nos canaviais.
O plano de Arnaldo Jardim para a cana-de-açúcar é
destinar mais recursos oriundos dos fundos de apoio e agências de investimento
ligados à secretaria. Ele menciona, por exemplo, o financiamento a pequenos e
médios fornecedores de cana para renovação de canaviais.
Ele defende que a agropecuária de São Paulo não se
limita à cana, apesar de ser o carro-chefe estadual. "Também somos
relevantes em laranja, borracha, madeira e carnes", destaca. A
concentração da agricultura na cana não é um problema, na sua visão.
"Nosso trabalho não vai ser o de descobrir uma alternativa à cana, mas
complementar à ela. É uma cultura estratégica do ponto de vista energético e de
mudanças climáticas".
Por Fabiana Batista - Valor Economico - 22/01
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