Ônibus: o ponto da discórdia
Se não bastasse a péssima gestão em todas as
áreas da Prefeitura, o que acontece no setor de transportes é ainda mais
escandaloso e inaceitável. O prefeito Haddad rasga o dinheiro do contribuinte
paulistano com um subsídio crescente (passou de R$ 980 milhões na administração
Kassab para R$ 1,7 bi) e medidas demagógicas sem perder a ensaiada pose de bom
moço.
Faz auditoria desnecessária para constatar o que já se sabe,
prorroga indefinidamente o contrato com as empresas sabendo que paga além do
que deve pelo serviço prestado e apesar de tudo, contrariando o bom senso, diz
que vai aumentar a tarifa. É muita cara-de-pau!
Em vez de abrir a licitação que prometeu desde a
posse, Haddad cria factóides para empurrar com a barriga o atual contrato
(assinado há 10 anos pelo mesmo secretário Jilmar Tatto) e faz cara de surpresa
quando a tal auditoria externa, contratada a peso de ouro, apura
irregularidades que poderiam facilmente ter sido flagradas em tempo real pelo
sistema que já opera na SPTrans.
Afinal, para verificar que uma em cada dez partidas
programadas de ônibus e vans não é realizada, ou que os veículos andam
frequentemente lotados, ou mesmo que já passaram da vida útil determinada por
contrato, não apenas seria suficiente a fiscalização regular da Prefeitura, bem
como bastaria o olhar atento da própria população, que registra diariamente
suas reclamações nos órgãos oficiais e nas redes sociais.
Agora, se as irregularidades escapam do controle do
prefeito e as empresas permanecem recebendo dinheiro por um serviço incompleto,
tanto as empresas do setor quanto a Prefeitura devem ser responsabilizadas.
Porque a única vítima nessa história é o usuário deste transporte sucateado, de
baixa qualidade e insatisfatório.
Os instrumentos para fiscalização e punição das
irregularidades existem desde a gestão do prefeito José Serra, iniciada em
janeiro de 2005, quando foram sanadas as primeiras ilegalidades que vinham do
contrato herdado da gestão petista anterior.
Lembre-se que naquela época havia ameaça de greve e
manifestações em razão de recursos não-repassados pela Prefeitura do PT, tanto
para o chamado sistema estrutural (empresas de ônibus) quanto para o
sub-sistema local (permissionários ou perueiros).
A Prefeitura resolveu as pendências, renovou a
frota (que tinha mais de 1200 ônibus com mais de 10 anos de uso), detectou e
corrigiu fraudes no bilhete único (os "passageiros fantasmas" que
eram criados ao se passar o bilhete repetidas vezes na catraca), além de
integrá-lo ao metrô.
O monitoramento dos ônibus em tempo real foi
finalmente implantado, isso depois da interferência do prefeito Serra, pois a
gestão anterior já havia pago 70% do valor sem que o programa tivesse ao menos
sido entregue e testado.
Cúmulo da irresponsabilidade típica do PT, somados
a todos esses problemas de má gestão, os corredores de ônibus já eram
inaugurados com problema de dimensionamento de fluxo, devido ao improviso e à
pressa imposta pelo calendário eleitoral - como o PT deve repetir agora com a
tentativa desesperada de reeleger Haddad.
Ou seja, a Prefeitura tem o mapeamento por GPS,
linha por linha, ônibus por ônibus. Possui o controle integral e online do
sistema, do tempo percorrido ao número de passageiros transportados por
veículo. Se há divergências entre o serviço executado e os valores pagos, ou se
o custo real do transporte permanece obscuro (lembre-se que Haddad prometeu
abrir a "caixa-preta" do sistema) é por omissão ou conivência do
próprio poder público.
Em outras palavras, se houvesse competência,
seriedade e vontade política, a Prefeitura não teria levado dois anos para
começar a fazer este raio-x do sistema e já o teria tornado transparente e
eficaz. Vou além: teria diminuído o valor do subsídio pago às empresas e até
mesmo reduzido o preço da tarifa. Por que não fez? Com a palavra, Haddad e
Jilmar Tatto...
PS. Atenção, Ministério Público: será que a
auditoria vai apontar o que a população toda já sabe, ou seja, que os ônibus do
sub-sistema local circulam sem cobradores, apesar de constarem da planilha de
custos? Falaremos mais sobre ônibus na próxima semana.
Carlos Fernandes foi subprefeito da Lapa (2010/2011) e preside
o PPS paulistano.
Artigo publicado originalmente em 12/12/2014 na Gazeta do Ipiranga
Artigo publicado originalmente em 12/12/2014 na Gazeta do Ipiranga
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