Cooperativa União Ambiental e Artesanal Mofarrej

Um sonho de cada vez...

Um grupo de catadores de materiais recicláveis, que literalmente carregavam nosso lixo nas costas utilizava o baixo do viaduto Mofarrej para armazenar seus materiais, seus cães, sua comida... era local de trabalho e moradia. Entre muita sujeira, ratos e trapos se encontravam essas pessoas, sem organização, sem perspectivas, mas com sonhos.


A muito o poder público já se preocupava com o espaço, pois era um grande foco de doenças e atividades ilícitas que se camuflavam entre os catadores que esperavam uma alternativa para sair da condição de rua. O viaduto foi fechado diversas vezes, inutilmente, pois eles abriam buracos e o problema persistia, apenas ficava fora do campo de visão. 



Com a parceria entre a Subprefeitura e a construtora EVEN o espaço foi reformado e adaptado para tornar-se um local de trabalho, uma central de triagem, que mesmo com pequenas dimensões poderia triar  300 toneladas/mês.

Primeiro sonho alcançado o espaço foi entregue no início de 2010 aos catadores

Com o espaço pronto vieram os novos desafios. Conseguir organizá-los e sensibilizá-los para o trabalho cooperado e legalizá-los enquanto pessoa física, já que muitos dos catadores nem documentos pessoais possuíam.

Nesse momento entra a participação da ABES/SP (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental), do Fórum Lixo e Cidadania do Estado de São Paulo, do Fórum para o Desenvolvimento da Zona Leste e da Clínica de Negócios Inclusivos AVINA/FGV que desenvolveram e aplicaram um curso com o objetivo de promover a capacitação técnica para o trabalho com conteúdos envolvendo  gestão administrativa das cooperativas e autogestão, logística, economia solidária, políticas públicas entre outros temas.

Antes dessas intervenções os catadores conseguiam uma renda mensal entre 150 e 200 reais. Em outubro de 2010 eles conseguiram comercializar R$ 10.000,00 em apenas uma quinzena, atualmente a média que cada catador retira é de R$ 700,00 e esse valor tende a crescer e muito, pois hoje o novo sonho é por em funcionamento a prensa existente. Com o uso da prensa eles poderão triplicar seu rendimento, pois aumentará a qualidade do produto e ampliará o número de compradores.

A legalização da cooperativa está quase finalizada, em março deste ano eles assinaram a ata de aprovação do estatuto e aguardam o registro. 

Nessa caminhada a cada sonho realizado, outros brotam. Sonhos como os da Paula Feitosa Nunes, catadora de 34 anos que sonha com a casa própria “eu vivia na casa de um e de outro e hoje, agora eu tenho meu barraco, é alugado né, e pretendo chegar um dia d’eu comprar a minha casa própria né” e vemos a esperança em falas como a de Maria das Graças da Conceição “muita gente já se ergueu na vida através do lixo”.

E existe um sonho maior, um sonho que todos nós sonhamos e que o trabalho dessas pessoas  pode transformar em realidade... Garantir a sobrevivência humana nesse planeta, para nós e as futuras gerações, coisa que o filho da catadora Sueli Aparecida Batista já entendeu muito bem e já vem disseminando em sua escola “a minha mãe é uma recicladora. Ela protege o meio ambiente, ele recicla coisas que jogam fora que demora anos para se decompor”.

O trabalho desenvolvido pelos catadores na cooperativa contribui ainda, para o aumento da vida útil dos aterros sanitários e para a economia dos recursos renováveis, por meio do reaproveitamento de materiais recicláveis propiciados pelo trabalho de coleta, triagem e comercialização, realizados por eles.

Na maioria das vezes pensamos que para resolver o problema de coleta seletiva na cidade de São Paulo é preciso construir uma central de triagem gigantesca que consiga receber todo o material reciclável produzido, mas felizmente a Cooperativa Mofarrej vem trazendo um novo modelo a se pensar e replicar em outros locais. Uma cooperativa pequena, mas com grande organização e que tria os materiais produzidos nas localidades próximas, recolhida pelos catadores ou mesmo entregues na cooperativa por empresas e moradores da região.

Se mais cooperativas fossem espalhadas pela cidade com o mesmo perfil, sem grandes dimensões físicas, mas com uma organização capaz de triar, prensar, e comercializar os resíduos com uma grande rotatividade, poderíamos alimentar sonhos como a casa da Paula e até a sustentabilidade do planeta.

Maíra Moraes Santos &
Daniela Nori Chiossi
Abril de 2011




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