Segurança alimentar requer mais do que míseros trocados

   Se a cúpula e os técnicos do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) estivessem dispostos a conhecer de perto a dinâmica dos programas estruturantes que a cidade de São Paulo consolidou no campo da segurança alimentar, certamente voltariam para Brasília uma nova perspectiva de planejamento e reformulariam o edital publicado no dia 3 de julho, chamando Organizações da Sociedade Civil (OSCs) a  aderirem ao programa de segurança alimentar ancorado numa ajuda de custo no valor de R$2,40 por refeição distribuída.

 

No total, o investimento do MDS nesse programa, que o Palácio do Planalto faz questão de classificar como “solidário”, é de R$ 30 milhões num período de 12 meses, abrangendo 78 municípios. Mas, avaliando a fundo essa proposta, veremos que solidariedade nesse programa federal é uma simples peça de ficção social.  

 

Ao realizarmos um simples exercício aritmético, veremos que, mensalmente, cada município receberia pouco mais R$ 32 mil por mês. Valendo-nos da famosa “regra de três” notamos que o governo conseguirá aportar seus R$ 2,40 em 13.554 refeições produzidas por OSCs em cada município beneficiado pela “solidariedade” de Brasília. Se a distribuição for de segunda a sábado, a oferta diária será de apenas 513 pratos em cada uma das 78 cidades. O  com o governo entra com essa parca ajuda financeira por prato e pouco se importa com o custo global da produção das refeições, deixando com que as OSCs literalmente se virem para serem bravamente solidárias com o povo brasileiro em situação de vulnerabilidade. Fica evidente que a política de segurança alimentar gestada nos gabinetes do Ministério do Desenvolvimento Social, de solidária nada tem.

Rede Cozinha escola
Rede Cozinha Escola na Vila Leopoldina

 

Já na cidade de São Paulo, o cenário da alimentação de pessoas vivendo em situação de vulnerabilidade, é completamente diferente. Desde o início do ano, a prefeitura distribuiu mais de 7,2 milhões de refeições para pessoas em situação de vulnerabilidade e baixa renda por meio dos programas Cozinha Escola, Cozinha Cidadã e Bom Prato Paulistano. Ao ver por exemplo, como funciona, na prática, o Cozinha Escola, o MDS entenderia que um programa de segurança alimentar exitoso é aquele que consegue oferecer ao parceiro conveniado não um mera e ajuda de custo, mas sim um consistente aporte financeiro capaz de garantir a plena produção das refeições contratadas, controlar a qualidade da alimentação ofertada, proporcionar a justa  valorização dos recursos humanos da OSC parceira, além de entregar a esses trabalhadores a oportunidade de qualificação profissional, mirando a geração de renda.

 

Não é à toa que a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), órgão da ONU, reconhceu a importância dos programas de combate à fome criados na gestão do prefeito Ricardo Nunes.


O combate à fome no Brasil tem de ser prioridade em todos os níveis de governo a partir da criação políticas efetivamente estruturantes. É o que acontece no Estado e na cidade de São Paulo, com governador e prefeito dando exemplo de como atuar de forma colaborativa. O Programa Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional foi ampliado com a incorporação do Bom Prato Paulistano, iniciativa implantada em parceria com o governo do estado, que mantém ativo o pioneiro e consolidado programa Bom Prato. Os dois programas oferecem à população café da manhã por R$ 0,50 e almoço a R$1,00

 

É mirando exemplos como esse que podemos construir no Brasil políticas públicas estruturante no campo da segurança alimentar e nutricional, algo que vai muito além de ofertas “solidárias” no valor de dinheiro trocado.


Carlos Fernandes atuou como Secretário Executivo Municipal de Segurança Alimentar, Nutricional e Abastecimento de São Paulo.



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