Ninguém governa nada sozinho
Ninguém governa nada sozinho
São Paulo não é uma cidade. São várias ocupando o mesmo espaço. Com um olhar que vai do bairro pobre de periferia às regiões mais ricas, é possível identificar ao menos uma dezena de cidades diferentes, cada uma com suas necessidades específicas. Tem lugar em que falta o básico, de saneamento a asfalto, e lugar onde não falta nada, mas é preciso zeladoria e manutenção.
Por reconhecer a diversidade da
metrópole sei que não há gestor que pode dizer-se sabedor de todas as suas
demandas. Não há como governar de cima para baixo uma pirâmide com bases tão
amplas. Por isso a descentralização é tão fundamental para a gestão da cidade.
Aprendi na prática, quando fui
subprefeito da Lapa, que contar com o apoio da população é fundamental para
garantir a qualidade de vida. Lá na Sub, recebíamos com frequência ligações de
munícipes, que pediam para tampar um buraco na sua rua, resolver um problema de
vazamento deixado pela concessionária, uma poda de árvore, ou outras diversas
demandas.
O que fizemos foi deixar de encarar
esses munícipes como ‘chatos’ e dar a eles o status de colaborador. Colocamos
uma pessoa responsável por gerenciar esses pedidos, encaminhar as soluções,
fossem elas de nossas responsabilidade na Subprefeitura, ou de outro órgão, e
retornar ao reclamante.
Contar com os cidadão como parceiros
é o mesmo que ter um olho em cada rua. Ajuda na gestão e confere à população um
sentimento de pertencimento. O cidadão deixa de encarar o poder público como o
‘fornecedor de soluções’ e passa a se enxergar como parte desse processo de
resolução. E gosta disso.
Na Secretaria de Agricultura estamos
desenvolvendo agora um projeto de pesquisa de preços de alimentos orgânicos.
Não precisamos nem pedir. A população começou, espontaneamente, a nos enviar
preços que viram em estabelecimentos. O cidadão gosta e quer fazer parte das
soluções.
Infelizmente, desde que saímos da
gestão na Subprefeitura, quando iniciou-se a gestão Haddad, vimos estas instâncias
serem transformadas em meros puxadinhos, usados apenas para agradar
parlamentares, em um toma lá, dá cá vergonhosos. As subprefeituras hoje não
cumprem seu fundamental papel de descentralização da gestão urbana. O resultado
é o padrão de zeladoria pífio que vemos pelas ruas. Não me lembro de ter visto
uma gestão falhar tanto nesse quesito. Pontos viciados de descarte de lixo,
falta de limpeza de bueiros e buracos que nunca se fecham, são apenas alguns
exemplos daquilo com que o paulistano tem sido obrigado a conviver.
Isso sem nem falar do campo fértil
para o comércio ilegal e o tráfico de drogas, que Haddad conseguiu ao fazer
minguar a Operação Delegada.
Tenho a impressão de que a gestão
petista quer mesmo a população longe. Afinal, de perto dá para enxergar bem
melhor e com certeza o paulistano não vai gostar do que pode ver.
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