Nem o Ceagesp escapa ao marketing vermelho
A proximidade das eleições deve estar causando crises de ansiedade ao nosso querido Fernando Haddad. Na contagem regressiva para colocar a campanha na rua ele tem passado os últimos meses maquiando seu quadro de metas e tentando tirar do papel projetos que não conseguiu emplacar ao longo de sua gestão. A seleção deles de certo foi feita por sua equipe de marketing e não de gestão urbana.
No meio desse emaranhado de ações superficiais, destaca-se a mudança do Ceagesp, que Haddad quer levar da Vila Leopoldina, bairro nobre da cidade, para Perus, região periférica e carente de infraestrutura.
Fui subprefeito da Lapa e conheço bem os impactos que o entreposto gera no entorno do local onde está atualmente instalado. O fluxo de caminhões é intenso e a região está bastante degradas. Mas, exatamente por conhecer, sei que uma solução simplista como a que está sendo proposta não resolve a questão.
O Ceagesp é mais do que apenas um centro de armazenamento e distribuição de produtos agrícolas. Há tempos instalado na zona oeste, o espaço já é parte da cultura do paulistano, que vai ao local para fazer suas compras (já que as vendas por lá acontecem também no varejo), visitar a feira de flores, participar das atividades gastronômicas e usufruir dos serviços que o espaço oferece. São, diariamente, cerca de 50 mil pessoas circulando por lá. São serviços importantes e que não podem ser simplesmente extintos.
Os movimentos que Haddad fez para esta mudança não levam em consideração nenhum destes aspectos. Ao incluir a possibilidade de levar o Ceagesp para qualquer outro lugar da cidade no Plano Diretor Estratégico e na Lei de Zoneamento, o prefeito do centro expandido só fez explodir a especulação imobiliária na Vila Leopoldina. Malddad não se preocupou em pensar em soluções para o terreno que evitem que o espaço, que hoje presta um serviço público, não se converta em grandes condomínios fechados, ou outros espaços excludentes.
Minha opinião como pessoa que conhece de perto a gestão pública é que o atual terreno, que tem cerca de um milhão de metros quadrados, com área da União e da Prefeitura, seja dividido em diferentes espaços. Parte dele poderia dar espaço à habitação e interesse social, para abrigar moradores de uma comunidade que existe nas proximidades, e parte poderia permanecer como entreposto. Seria um espaço menor, que respeitaria a vocação de espaço gastronômico do Ceagesp, poderia incentivar a cultura de orgânicos, além de poder abrigar uma escola de gastronomia e outros serviços. A redução da quantidade de produtores iria diminuir o fluxo dos caminhões e amenizar o problema causado por estes veículos.
O novo entreposto poderia ser instalado em Perus. A cidade de São Paulo tem capacidade de absorver a demanda dos dois centros e certamente isso facilitaria a vida do produtor, que poderia escolher a região que melhor lhe convém para levar suas mercadorias.
Mas, estamos cansados de saber que pensar soluções de longo prazo não é uma prioridade das gestões petistas. Importante mesmo é forjar evidências de benefícios para cidade, que se convertam em votos. É um cálculo eleitoreiro, muito semelhante ao feito por Dilma em 2014 e que levou o país ao status que está hoje, de crise econômica e política. A forma como a questão da mudança do Ceagesp está sendo conduzida atende muito mais à especulação imobiliária e o setor da construção civil, que se beneficia dela, do que a população paulistana e os produtores. Ainda bem que tenho certeza de que eles não estão ganhando nada em troca (#sqn).
Será que o prefeito não sabe que pensar não dói? O caminho mais fácil normalmente não é o melhor. São Paulo merece soluções que beneficiem pessoa e não partidos.
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