São Paulo: dos CEUs ao inferno
Não precisamos morrer de amores pela ex-prefeita Marta Suplicy para dar
razão às críticas que ela faz ao PT , nem para reconhecer alguns méritos
inegáveis da sua gestão, ainda mais se compararmos às atuais administrações
petistas, tanto do prefeito Fernando Haddad quanto da presidente Dilma Roussef.
Marta assumiu a Prefeitura de São Paulo em 2001, herdando a terra
arrasada deixada pelos antecessores Paulo Maluf e Celso Pitta, após um
intervalo de oito anos da primeira gestão petista, com a prefeita Luiza
Erundina, de 1989 a 1992. Deixou marcas e realizações importantes, como os
CEUs, o Bilhete Único, o Vai e Volta, o Passa Rápido, o Leve Leite ampliado.
O PT que dava os primeiros passos no poder era outro, tanto com Erundina
quanto com Marta. Com um histórico oposicionista exemplar, tinha credenciais
para se contrapor à velha política representada por Maluf, Sarney, Collor &
cia. A gestão Erundina enfrentou dificuldades pelo comportamento dos próprios
petistas. No governo Marta, porém, os problemas foram se agravando. O PT se
apropriou do malufismo, aliou-se aos políticos que antes combatia, aparelhou a
máquina, loteou a administração. Surgia ali o modus operandi que, aperfeiçoado
em Brasília, culminaria nos escândalos do mensalão e da Petrobras.
Hoje a melhor definição do PT vem da própria
Marta: "Cada vez que abro um jornal, fico mais estarrecida com os
desmandos do que no dia anterior. É esse o partido que ajudei a criar e fundar?
Hoje, é um partido que sinto que não tenho mais nada a ver com suas estruturas.
É um partido cada vez mais isolado, que luta pela manutenção no poder. E, se
for analisar friamente, é um partido no qual estou há muito tempo alijada e
cerceada, impossibilitada de disputar e exercer cargos para os quais estou
habilitada."
O desabafo - e até o seu possível viés eleitoral - não isenta Marta,
como senadora do PT desde 2010 e ministra de Dilma Roussef até a sua reeleição,
da responsabilidade de ter ajudado a eleger e a manter no poder o partido e as
lideranças que hoje são alvo de suas críticas.
Mas nunca é tarde para a autocrítica e para uma correção de rumo.
Marta segue os passos de figuras expressivas que deixaram o partido por
discordar dos métodos e práticas petistas, como Marina Silva, Luiza Erundina,
Heloísa Helena, Cristovam Buarque, Fernando Gabeira, Hélio Bicudo (ex-vice de
Marta), Soninha Francine, entre outros.
Assim como apostamos na dissidência aberta no plano federal (a
candidatura presidencial de Eduardo Campos, depois Marina Silva) como
alternativa viável e consistente para ajudar a erradicar o PT do poder, num
movimento que seguimos construindo no bloco partidário formado por PPS, PSB, PV
e Solidariedade, também vemos com bons olhos o deslocamento de Marta Suplicy do
campo governista.
O petismo faz mal para São Paulo e para o Brasil. A ruindade da gestão
Haddad é tão notável que, veja só, a primeira candidatura oposicionista que se
apresenta é originária do próprio PT. Não é à toa o desespero que já toma conta
do governo com a simples possibilidade de Marta se candidatar à Prefeitura em
2016. O paulistano não é bobo. Vai usar a arma que tem - o voto - para botar
essa turma para correr! Basta!
Carlos Fernandes foi subprefeito da Lapa e preside o PPS paulistano.
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